Um dos setores mais antigos do mundo, o agronegócio precisa incorporar a transformação digital para superar diferentes desafios. Um deles é aumentar a produção de alimentos em 70% até 2050, período em que a população mundial deve se aproximar de 10 bilhões de pessoas, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Outra questão é: com as pessoas preferindo cada vez mais a vida nas grandes cidades, como transferir e reciclar o conhecimento de várias gerações de agricultores para atender às demandas dos novos tempos?

Uma das alternativas para avançar nesse processo é olhar para outros segmentos que elevaram o nível de eficiência por meio da tecnologia. Neste contexto, a aviação é sem dúvida um exemplo de extrema  maturidade tecnológica a ser seguido. Unindo-se critérios de segurança, inovação, eficiência e rapidez, muitas das tecnologias aplicadas na aviação poderão alcançar a maturidade necessária para entrar em produção em outros setores críticos para o desenvolvimento do país, entre eles a agricultura.

Inovação e eficiência no transporte aéreo 

O espaço aéreo brasileiro é uma imensidão de 22 milhões de quilômetros quadrados, atravessado, a todo momento, por milhares de aviões. Os controladores precisam saber, com precisão, quais aeronaves estão voando ao mesmo tempo e assegurar que elas cruzem os céus em segurança. Para controlar toda essa área, o Brasil possui vários sistemas de controle aéreo que, por razões óbvias, não poderiam ser operados de forma manual.

Assim, o controle aéreo se converte em um grande centro tecnológico gerenciado de forma remota. A inovação tem elevado os níveis de segurança e confiabilidade, requisitos inegociáveis para essa indústria, mas também para promover maior eficiência operacional. O próximo passo é preparar as cidades para o crescimento da mobilidade urbana aérea e, para isso, será imprescindível lançar mão de soluções de gerenciamento de drones e veículos aéreos.

O campo e a busca pela maturidade tecnológica 

As tecnologias da revolução 4.0 permitem a conexão de diferentes experiências, visando ao fortalecimento da colaboração entre setores estratégicos e fundamentais para o país e, a partir daí, é possível estabelecer um paralelo entre aviação e agricultura, para tentar vislumbrar como serão as fazendas do futuro.

Uma boa maneira do agronegócio criar experiências digitais a partir do conhecimento gerado pela indústria aeronáutica é investir em soluções para geração cada vez mais intensa de dados sobre o campo e em tempo real. Neste contexto, a adoção de tecnologias que habilitam a conectividade e a IoT (internet das coisas) serão cada vez mais aliadas nesse processo de modernização do campo.

Com o domínio das informações, será possível criar soluções que potencializam a qualidade dos processos e o aperfeiçoamento de tarefas, simplificando a rotina dos agricultores, até a adoção da Inteligência Artificial (IA). Essa, por sua vez, tem um papel fundamental para integração do campo com toda a cadeia de suprimentos. O ponto de atenção aqui é que IA tem potencial para elevar o nível de maturidade tecnológica do campo ao ponto que seja autônomo e gerenciado remotamente.

Outra vantagem da utilização da IA na agricultura é a possibilidade de tomar melhores decisões para combater as mudanças climáticas. Em um cenário de mundo globalizado, a IA oferece ainda insights sobre toda a cadeia produtiva para atender exigências de regulamentação governamental, de forma harmônica e em âmbito global

A indústria aeronáutica já possui vocação tecnológica há tempos e o caminho está sendo trilhado pelo agronegócio. No futuro, será possível distinguir as empresas de cada setor pela sua capacidade de fazer a inovação acontecer. E com a disseminação de tecnologias como IA, veículos autônomos e gestão remota, será possível controlar o espaço aéreo e uma fazenda, por exemplo, com a mesma capacidade.

Nesse contexto, o chamamento para a cocriação 4.0 será fundamental para um cenário onde agro e aviação estejam no mesmo patamar de inovação e competitividade. Ambos são cruciais para impulsionar a retomada do crescimento no Brasil.

*  Jefferson Castro é Gerente Executivo e Head da Unidade B2B da Atech