As lavouras brasileiras nunca viram o vaivém de tantos tratores, cultivadores e colheitadeiras zeroquilômetro como nesta safra. Na contramão do baixo ritmo de expansão da indústria nacional, as fabricantes de máquinas e implementos estão prestes a bater novo recorde de vendas no País. O setor estima que até o final de dezembro o mercado interno já terá absorvido 83 mil novas máquinas agrícolas, levando para o campo mais produtividade e precisão. A última vez em que o setor ficou tão confortável assim foi há 37 anos, quando 80,1 mil novas unidades foram vendidas em apenas 12 meses. Segundo Gilson Lari Trennepohl, presidente da gaúcha Stara Indústria de Implementos Agrícolas, campeã na categoria Máquinas e Implementos Agrícolas de AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL, o ano foi bom para a empresa e para o setor devido, principalmente, às linhas de financiamento oferecidas ao longo do ano. “Neste ano lançamos tratores da linha de 100 cavalos, e foi sucesso de vendas”, diz Trennepohl.

Além das diversas linhas de crédito oferecidas pelos bancos privados, o Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) passou a oferecer, desde o ano passado, linhas especiais dentro do Programa de Sustentação do Investimento (PSI). A Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura estima que até o final desse ciclo o PSI libere R$ 7 bilhões em linhas de financiamento. Isso representa R$ 1 bilhão a mais do que na safra passada. A taxa do PSI começou em 2% ao ano em 2012 e, no segundo semestre deste ano, passou a 3,5% ao ano. “Ainda assim, é competitiva”, diz o executivo. “As vendas não param de crescer.”

Segundo Trennepohl, a empresa de Não-Me-Toque, na região do Planaldo Médio gaúcho, fechará 2013 com crescimento de 12% e faturamento de R$ 1 bilhão. E, como antes de mirar as linhas de crédito o agricultor olha para a lavoura – que vai muito bem, aliás, com uma safra de grãos prevista para 200 milhões de toneladas neste ano –, a indústria de máquinas vai continuar investindo.

De olho no crescimento da safra nacional, a empresa contou, por exemplo, com investimentos da ordem de R$ 300 milhões em tecnologia neste ano. Em 2014, planeja construir uma nova fábrica de tratores em Santa Rosa, também no Rio Grande do Sul, onde já está instalada a americana AGCO/Massey. O primeiro pavilhão da nova fábrica de tratores deve ser concluído até o final do primeiro semestre, com 22 mil metros quadrados. “Vamos investir, ainda, na filial de Carazinho, no departamento de fundição e na gestão de informação, com a implantação do SAP”, diz Trennepohl. “Isso colocará a Stara no mesmo nível de empresas multinacionais e nos deixará preparados para uma possível internacionalização.” Em 2014, a Stara projeta fabricar 12 mil unidades e lançar máquinas mais potentes. “A ideia é assegurar de vez a entrada da Stara no segmento”, diz.

Se depender da tradição da empresa, não será difícil consolidar a Stara no segmento de maquinário para o campo. Trata-se de uma empresa de estrutura familiar, que foi fundada em 1960 por Johannes Bernardus Stapelbroek, avô da mulher de Trennepohl. “Foi uma das pioneiras no País no desenvolvimento das máquinas inteligentes, ou seja, na tecnologia de agricultura de precisão”, diz Trennepohl. O primeiro projeto de agricultura de precisão, o Aquarius, fruto de uma parceria entre a Massey Ferguson e Stara, foi desenvolvido em 2000 e até hoje atua em pesquisa de máquinas agrícolas inteligentes. “Temos um dos maiores bancos de dados do mundo.”