“Estamos em uma região privilegiada para produção de bons rótulos” Daniela freitas, presidente da Villa Francioni

O sol brilhava forte no céu de Florianópolis, capital de Santa Catarina, quando a empresária Daniela Freitas entrou em seu carro, pronta para enfrentar uma viagem de cerca de 300 quilômetros rumo à serra. Um trajeto que ela repete pelo menos uma vez por semana e que é marcado pelo ritmo do termômetro instalado no interior do veículo, que naquele momento registrava agradáveis 26 graus. Bastam alguns quilômetros percorridos para que montanhas, riachos e cachoeiras surjam na paisagem, que ganha um tom embranquecido graças às constantes geadas que caem naquele lugar. O termômetro já marca 15 graus. Daniela é filha do empresário catarinense Dilor de Freitas, fundador da Cecrisa, uma das maiores empresas da área de cerâmica do País, com faturamento de R$ 609 milhões em 2009. Sua viagem tem como destino São Joaquim, município localizado em uma das regiões mais altas e frias do País. O termômetro já aponta gélidos três graus, quando seu carro estaciona em frente à Villa Francioni, vinícola construída por seu pai, que encontrou naquelas terras geladas potencial para montar um projeto de cultivo de uvas nobres, destinadas à produção de vinhos finos, de qualidade diferenciada e de alto valor agregado. “Estamos em uma região com características que possibilitam a produção de vinhos de qualidade superior.

Projeto ousado: vinícola foi construída de forma inclinada e em seis níveis, tudo para garantir a qualidade na fabricação da bebida

Por isso, temos uma produção totalmente direcionada para esse sentido”, conta a empresária que herdou do pai não apenas o comando da propriedade como também a paixão por vinhos e hoje colhe os primeiros resultados da produção. Com pouco mais de oito anos de existência, sua vinícola já está entre as mais premiadas do País, com rótulos, que chegam a custar R$ 250, listados entre os melhores da América Latina, por publicações e rankigns especializados. “Já recebemos alguns dos principais enólogos do mundo e sempre tivemos um bom reconhecimento. Sinal de que estamos no caminho certo”, comemora Daniela.

Na propriedade são cerca de 50 hectares ocupados por vastos parreirais. São colhidas cerca de 150 toneladas da fruta por ano, entre merlot, cabernet, sirah, malbec, entre outras variedades de uvas. Esse volume permite uma produção de 150 mil garrafas. No alto de uma colina fica o imponente prédio da vinícola, um projeto pessoal de Dilor, que não teve chance de ver sua obra totalmente concluída. Em 2004, após voltar de uma viagem em que levou toda a família para visitar as principais vinícolas da Europa para que juntos aprendessem os macetes da produção e um ano antes do primeiro rótulo da vinícola ser lançado, o empresário faleceu vítima de problemas cardíacos. Os quatro filhos decidiram levar o sonho do pai adiante e coube à caçula ficar à frente do projeto, no qual cada detalhe foi pensado para otimizar o clima da região e produzir vinhos de qualidade.

 

“Meu pai queria que a vinícola fosse um pedaço da Toscana no Brasil, produzindo bebidas tão boas quanto as de lá. Por isso, seguimos à risca todos os processos que foram desenvolvidos”, revela Daniela.

De fato, na produção quase artesanal da Villa Francioni o que não faltam são detalhes, começando pela própria estrutura do prédio, que funciona em seis níveis, dois na superfície e quatro no subsolo. Projetada de modo que ficasse inclinada na colina, a estrutura dispensa o uso de bombeamento durante a fabricação da bebida, evitando contaminações ou impurezas. As barricas de carvalho, nas quais os vinhos são envelhecidos por períodos que variam entre oito meses e oito anos, são todas importadas da França. Na vinícola as bebidas são feitas com a mistura de vários tipos de uvas.

R$ 250 é quanto chegam a valer alguns dos vinhos mais nobres

da propriedade

Uma receita que fica sob responsabilidade do enólogo Orgalindo Bettú, que acompanhou todo o processo de construção da vinícola e hoje é o diretor de produção da unidade. “Nós supervisionamos toda a produção e trabalhamos para encontrar os melhores cortes que possam originar bons vinhos”, ressalta o diretor, que também cuida dos detalhes de cultivo das uvas. “Estamos em uma região de 1,2 mil metros de atitude, isso faz com que o período vegetativo das plantas seja menor. Assim conseguimos colher as uvas maduras, em um período sem chuvas. Isso é uma grande vantagem”, conta. “Além disso, a maioria dos vinhedos produz cerca de 20 toneladas de uvas. Nós produzimos apenas quatro toneladas. Isso dá um equilíbrio melhor para o tipo de fruta que queremos. São detalhes que ajudam na elaboração de um bom vinho”, pondera.

Arte pura: quadros e vitrais decoram o lugar, enquanto o enólogo Orgalindo Bettú desenvolve novos sabores

Mas a Villa Francioni não chama a atenção apenas pelos vinhos que produz. Além da bebida, o lugar reúne uma outra paixão da família: a arte. A suntuosa entrada do prédio funciona como uma galeria em que artistas se revezam expondo seus quadros. Ao longo da construção, vitrais, lustres antigos e até corrimões trazem consigo uma história. “A maioria das coisas que decoram a vinícola foi comprada pessoalmente, em antiquários da Europa”, conta a empresária. Com tantas atrações e em meio a uma natureza privilegiada, a vinícola também explora o turismo rural da região. O local abre suas portas para visitantes, que pagam uma entrada de R$ 30, para conhecer de perto como se produz a bebida. Esse valor pode ser convertido em crédito para a compra de vinhos. “O número de visitantes pode variar de 400 a 1,2 mil pessoas”. E, assim, Daniela segue os passos do pai, em busca do vinho perfeito e fazendo dessa produção uma verdadeira arte.