No coração do pampa gaúcho, a vinícola Guatambu fincou suas primeiras vinhas em 2003. O local escolhido para o plantio foi a Estância Leões, área de reserva com grande biodiversidade na cidade de Dom Pedrito, região fronteiriça com o Uruguai. A propriedade faz parte da Estância Guatambu, empresa familiar que atua no agronegócio desde 1958 e hoje tem atividades ligadas ao cultivo de arroz, milho e soja, além da pecuária. Abrir espaço para a vitivinicultura foi ideia da agrônoma Gabriela Pötter. Então recém-formada, ela pediu ao pai que cedesse um pedaço de terra na propriedade para dar início aos primeiros vinhedos. Neto de imigrantes alemães, o veterinário e empreendedor Valter Pötter não apenas deu todo o apoio à iniciativa da filha como entrou de cabeça no mundo dos vinhos – e sempre movido pela inovação.

Se o plantio das primeiras videiras, a partir de mudas italianas e francesas, marcou o início de uma trajetória que incluiria importantes premiações, o crescimento da Guatambu foi acompanhado de iniciativas ligadas à sustentabilidade. A mais recente é o lançamento da linha Mysterius, com quatro rótulos produzidos especialmente para envase em lata, forte tendência na indústria vinícola global. Segundo estudo produzido pela Resource Recycling Systems, a lata de alumínio é hoje a embalagem mais sustentável e com o maior índice de reaproveitamento do planeta, e o Brasil está entre os países líderes em sua reciclagem. Para adequar a linha de produção aos novos vinhos, foram investidos R$ 180 mil. A nova marca terá parte da renda revertida ao reflorestamento do pampa gaúcho com árvores nativas da região.

Os vinhedos e as vinícolas respondem por 35% da receita da propriedade, mesmo com participação restrita a 0,2% da área total

A relação da família Pötter com sustentabilidade vem de outras safras. Com videiras tratadas com produtos naturais como aminoácidos, extrato de algas e Trichoderma – fungo aliado no controle biológico de doenças –, a Guatambu anunciou, em 2016, a implantação de 600 placas fotovoltaicas em suas instalações, com investimento inicial de R$ 1,3 milhão, tendo em vista a alta demanda de energia para a conservação das baixas temperaturas, imprescindíveis para a produção de vinhos. “Hoje temos 800 placas solares e um projeto de implantar outras 1 mil para atender às demandas da Estância, como secagem e seleção de grãos nos silos, fábricas de ração, bombas de irrigação e pivô central”, afirmou Gabriela. A iniciativa, pioneira no setor vitivinícola na América Latina, rendeu à empresa uma economia de energia elétrica de R$ 110 mil anuais.

Outra preocupação é o reaproveitamento de resíduos. A adubação é feita com a compostagem obtida a partir dos resíduos sólidos da vinícola, como cascas e sementes de uvas, juntamente com o esterco de bovinos e cascas de arroz. Os esforços voltados ao desenvolvimento sustentável garantiram à Guatambu o Selo Solar, concedido pelo Instituto IDEAL em parceria com o WWF-Brasil e a Cooperação Alemã para o Desenvolvimento Sustentável, em 2017.

Adoção de energia renovável e nova embalagem consumiram
R$ 1,5 milhão

ENOTURISMO Se a vinícola e seus vinhedos – onde são cultivadas oito variedades de uvas viníferas – correspondem a apenas 0,2% dos 11 mil hectares da propriedade, juntos são responsáveis pelo maior retorno financeiro do grupo, correspondente a 35% da receita bruta. Além dos vinhos, a Estância Guatambu desenvolveu atividades de enoturismo. Da organização de degustações e simpáticos piqueniques no jardim a almoços harmonizados e cursos sobre o universo do vinho, a programação da vinícola atrai visitantes de todo o País, interessados em ir além da compra de rótulos. “Os visitantes ficam encantados com a experiência de conhecer como são elaborados os vinhos em todas etapas”, afirmou Gabriela, que é uma das enólogas da Guatambu. “Os rótulos são apresentados por mim, e minha família também está presente para receber as pessoas”. O destaque entre os passeios pela vinícola – fechada temporariamente para visitas em virtude da pandemia – é o Dia Épico, que inclui visita à área industrial e às caves da Guatambu, apresentação do parque solar e um almoço com parrilla de bife ancho e assado de tira de carne Hereford produzidos na Estância, harmonizados com cinco rótulos, incluídos itens da linha ultrapremium.

Valter Pötter aceitou a proposta da filha Gabriela de entrar no mundo dos vinhos e agora aposta em versão em lata de alumínio