Ritmo acelerado: Sérgio Ferreira, diretor-geral da Case para América Latina, tem expectativa de ganhar 25% do mercado de colheitadeiras e outros 10% do setor de tratores

 

R$ 1,15 bilhão foi o saldo de negócios realizados na Agrishow em cinco dias de feira

Numa tarde ensolarada em Ribeirão Preto (SP), a atenção do produtor Paulo Junqueira estava voltada para o que se pode chamar de uma “máquina” e tanto. Era um modelo imponente, com todos os itens de série que alguém pode desejar em um veículo de grande porte. Ao contrário do que muitos podem pensar, não se tratava do último lançamento de um carrão, mas sim de uma colheitadeira modelo CR9060, fabricada pela New Holland e apresentada durante a 17ª Agrishow, uma das maiores feiras de máquinas e implementos agrícolas da América Latina. Com a mesma alegria de quem retira o carro da concessionária, ele nem se importou com o cheque de R$ 1 milhão que deixou para a empresa que faz parte do grupo Fiat. O “mimo” será entregue em uma de suas fazendas, localizada no Piauí, cuja direção está a cargo do irmão e sócio. “Com o crescimento dos negócios e o rendimento da última safra foi possível investir em tecnologia”, diz. Junqueira é apenas um entre milhares de agricultores que se beneficiaram do crédito farto e das condições facilitadas de compra – juros de 4,5% ao ano e 100% do capital financiável. Com tantos Junqueiras abrindo a carteira, as montadoras já comemoram os lucros. A Agrishow deste ano, por exemplo, foi a melhor da história, com R$ 1,15 bilhão negociados. A Bahia Farm Show, mais importante mostra do Nordeste, que acontece este mês em Luís Eduardo Magalhães ampliou sua área em 10%. “Empresas que tradicionalmente participam do evento aumentaram os espaços dos seus estandes. Além disso, temos a entrada de novos expositores”, conta o diretor executivo da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba) e coordenador do evento, Alex Rasia. “Vem aí um novo ciclo positivo”, diz.

A recuperação dos negócios no setor começou no final de 2009 após uma conjunção de fatores que elevou a rentabilidade no campo.

 

Preparada para crescer: Fábio Piltcher, da Massey Ferguson, diz que há mercado para produtores de todos os tamanhos, do pequeno ao grande

Programas públicos de incentivo ao produtor rural, como o Pró Trator e o Mais Alimentos, fizeram explodir a procura por tratores de baixa potência. Segundo a Anfavea, as vendas passaram de 2,8 milhões de unidades em 2008 para 3,1 milhões em 2009. “Tivemos um grande volume de vendas impulsionadas pelos programas de incentivo ao pequeno e médio produtor” explica Silvio Rigoni, gerente de vendas da Agrale. Segundo Milton Rego, da Anfavea, a recuperação das vendas de equipamentos pesados é importante.

 

 

 

 

Mais trator, mais alimentos: Silvio Rigoni, da Agrale, diz que programas federais impulsionaram as vendas no primeiro semestre

Isso porque no ano passado, embora a indústria tenha vendido muitos tratores de baixa potência, os negócios com grandes equipamentos praticamente minguaram. Agora, o otimismo está de volta. “Este ano vamos crescer entre 15% e 20%”, explica Carlito Eckert, diretor de operações comerciais da AGCO. Fábio Piltcher, da Massey Ferguson, diz que pequenos, médios e grandes produtores têm boas opções de compra.

Quem já visualiza esse crescimento é Renato Schneider, um gaúcho que cultiva 15 mil hectares de algodão, soja e milho em Chapadão do Céu, interior de Goiás. Ele é um dos administradores do grupo Wink e comprou uma colhedora de algodão da John Deere, modelo 7760, produto que só vai chegar ao Brasil no início de 2011 e custa R$ 1,1 milhão. “Depois da boa colheita de algodão e diante da perspectiva de negociações na OMC para obter melhores taxas de comercialização, vimos que dava para investir em uma nova máquina.” Ele conta que a nova aquisição tem capacidade para colher 1,5 mil hectares ao dia, enquanto as demais disponíveis no mercado colhem em média 900 hectares. E, se o setor de máquinas vai de vento em popa, os bancos comemoram. Em cinco dias de feira, o Bradesco obteve R$ 471 milhões com 2,1 mil propostas de financiamento, a maioria delas por parte do varejo.

 

 

Braços abertos para lucrar: Junqueira aproveita a rentabilidade da última safra de grãos para investir cerca de R$ 1 mihão em uma nova colheitadeira e ganhar produtividade

“Nós superamos o nosso melhor ano de Agrishow, que foi 2008, com R$ 386 milhões”, comemora Nilton Pelegrino, diretor de empréstimos e financiamentos do banco. Entre os fatores que contribuíram para esse crescimento de 22% estão os bons rendimentos da safra 2009/2010 e o Programa de Sustentação do Investimento (PSI), que oferece taxa de juros de 4,5% para o financiamento de máquinas e implementos agrícolas. Com essas condições de financiamento, ganham produtores e empresas, como explica Sérgio Ferreira, diretorgeral da Case IH para América Latina. “Atendemos do pequeno ao grande produtor e os financiamentos hoje facilitam a aquisição de equipamentos.” Segundo ele, a expectativa da empresa é conquistar 25% de participação no mercado de colheitadeiras e 10% do mercado de tratores. “Isso no médio prazo”, ressalta.

 

 

 

 

Crescimento na mira: Eckert, diretor de operações da AGCO, já visualiza no horizonte aumento entre 15% e 20% nas vendas de máquinas para 2010

Quem também aproveitou o momento para ir às compras foi Olindo César Corso, produtor de grãos em Bambuí (MG). Com produção média de 152 sacas de milho e 45 de feijão em mil hectares, ele levou a família para acompanhá-lo na compra da colheitadeira 9790 da Massey Ferguson, que custou R$ 630 mil e cuja capacidade de colheita chega aos cinco mil sacos por dia. Para ele, a oferta de crédito para o produtor e a recuperação do setor são incentivos para investir. “Com essa aquisição, teremos um ganho na velocidade de colheita e plantio, o que vai aumentar nossos lucros” comemora. Irajá Rodrigues, novato no setor, está de olho no meioambiente. Ele é dono da Green Horse, uma empresa brasileira que desenvolve produtos “limpos”. Ele aposta numa inusitada dupla: uma moto e um pequeno trator movidos a energia elétrica. “Basta carregar na tomada”, revela. Se vende bem? “Vixe”, responde. Sinal de que os produtores estão ligados nas novidades.

 

 

 

 

MOTORES LIGADOS

* Estimativa – Fontes: Abimaq e Mapa

 

 

 

 

Ganho de produção: maior oferta de crédito ajudou Corso a programar a compra de colheitadeira de R$ 630 mil e capacidade para colher cinco mil sacos ao dia

Voando alto: para Almir Borges e Fábio Carretto, da Embraer, o reaquecimento da economia trará novos ares para o setor de aeronaves agrícolas

 

Novos negócios: Irajá Rodrigues, dono da Green Horse, lançou um trator e uma moto (foto), ambos movidos a energia elétrica e recarregados na tomada

 

Investimento em família: boa colheita do algodão e negociação do Brasil na OMC incentivaram os Schneider a investir R$ 1,1 milhão em colhedora