É uma experiência única atravessar o Paraná de ponta a ponta, nas primeiras semanas de março. Não somente porque é a região na qual o produtor rural mais fatura com a soja, na comparação com qualquer outro lugar do País, mas também porque é nessa época que a paisagem agrícola mais chama a atenção. É de encher os olhos os campos agrícolas de municípios como Castro, Carambeí, Palmeira e Ponta Grossa, localizados na região dos Campos Gerais. Foi nela, na década de 1970, que nasceu a técnica do plantio direto no País, manejo conservacionista reconhecido mundialmente e que permitiu a explosão do desenvolvimento da agricultura, principalmente a do Centro-Oeste. Os Campos Gerais, ora cobertos por soja, milho ou feijão, ora por matas e florestas plantadas, é o estado da arte do agronegócio paranaense. A região, composta por 22 municípios, mostra como o Paraná tem feito a lição de casa. O Estado tem a maior média nacional de produtividade para a soja. São 3,5 mil quilos por hectare, 10% acima da média nacional. Mas, para a propriedade do agrônomo Paulo Dzierwa, 59 anos, essa referência não serve. Na fazenda Serrana, em Palmeira, a média é de 4,6 mil quilos por hectare, 31% acima da média do Estado.

Eduardo Monteiro

Mas em algumas áreas da fazenda, Dzierwa colheu até 5,1 mil quilos por hectare na safra passada. “Apostamos sempre na prevenção”, diz ele. “Nesta safra, por exemplo, plantamos uma variedade que enraizasse bem, porque se viesse algum veranico, como era esperado, a plantação suportaria.” O produtor cultiva soja em mil hectares, sendo 400 em terras arrendadas. Assim como ele, os agricultores do Paraná mostram que a tecnologia, aliada à gestão fina do negócio, sustenta o campo. Não por acaso, a pujança do agronegócio local alavanca setores cada vez mais verticalizados e que necessitam de grãos para irem em frente. Como são as cadeias do leite, aves e suínos, também entre as mais produtivas do País.

Quatro pilares sustentam o Paraná. O primeiro são as terras férteis, com 61,5% do território do Estado de solos agricultáveis. Outro é a água farta. O Paraná possui 66% de sua área sobre o Aquífero Guarani, um dos maiores reservatórios subterrâneos do mundo, de 84 milhões de hectares. Tem, também, uma agroindústria fortíssima, onde estão as maiores cooperativas agrícolas do País, como a Coamo e a C.Vale. E uma logística para lá de favorável. O Estado conta ainda com um dos principais portos de exportação do Brasil, o Paranaguá. Não por acaso, a soja paranaense chega a ter um valor 20% acima do praticado em grandes regiões produtoras. Pelas contas do agrônomo Fabio Meneghin, sócio e consultor da Agroconsult, de Florianópolis (SC), o lucro médio nesta safra é de R$ 1,2 mil por hectare, ante R$ 1 mil em Mato Grosso, o líder em produção de soja no País. O Ministério da Agricultura estima um Valor Bruto da Produção (VBP) do grão paranaense de R$ 20,4 bilhões neste ano, riqueza que circula dentro das fazendas. “Foi por isso que a cadeia agroindustrial se formou ao redor da soja, como a produção de sementes e de ração para aves e suínos”, diz Meneghin. “Investir no Estado do Paraná se tornou uma ótima opcão.”

Paisagem: as lavouras de soja pintam de verde e amarelo o horizonte paranaense. A equipe do Rally da Safra cortou o Estado de ponta a ponta, em março, para mostrar a sua influência na economia do País e no desempenho de importantes agroindústrias (Crédito:Eduardo Monteiro)

O produtor Dzierwa, que além da soja ainda cultiva batata, feijão, milho, aveia e cria ovinos, investe pesado para colher 60 quilos a mais da oleaginosa por hectare. Enquanto a média de gasto com defensivos agrícolas no Estado é de R$ 374 por hectare, o produtor desembolsa R$ 486 por hectare, 30% a mais. “Testamos tudo o que há de melhor para a lavoura”, diz ele. Nesta safra, Dzierwa também passou a monitorar o desempenho da lavoura. Ele contratou os serviços da americana The Climate Corporation, subsidiária da Monsanto, que implantou sensores nas máquinas e uma miniestação meteorológica na propriedade. Somente com a soja, o produtor espera faturar R$ 6 milhões, o mesmo da safra passada. Isso porque, para ele o empate é lucro.

Eduardo Monteiro

A produção no Estado, assim como no restante do País, terá uma leve queda. O Paraná deve colher 19,3 milhões de toneladas de soja, 3,8% a menos que no ciclo anterior, de acordo com o Departamento de Economia Rural (Deral), órgão do governo do Estado.

Propriedades como a de Dzierwa entraram no radar da Agroconsult como uma das referências do Rally da Safra, um diagnóstico anual das lavouras de soja realizado pela consultoria. Até junho, serão percorridos 95 mil quilômetros, passando por 13 Estados. A iniciativa completa nesta safra 15 anos e se consolida como o maior projeto privado itinerante de avaliação de lavouras do País. Para Meneghin, da Agroconsult, a história da agroindústria paranaense pode ser contatada pela oferta abundante de grãos. “Por isso a agroindústria se tornou diversificada”, diz ele. “E se verticalizou.” Apesar de a exportação de soja ser espetacular para o Estado, com a cifra histórica de US$ 10,9 bilhões no ano passado, a maior parte da produção ainda fica no País. Cerca de 80% do grão vira farelo de soja e subprodutos para atender a produção de aves, suínos e leite. Os municípios de Castro e Carambeí são exemplos dessa sinergia entre os grãos e a agroindústria. Castro é a maior bacia leiteira do País, com uma produção de 255 milhões de litros de leite, 0,8% da produção nacional, segundo o dado mais recente do IBGE, de 2016. São vacas que produzem 7,8 mil litros por ano e necessitam de uma dieta altamente proteica. A produtividade leiteira local pode ser comparada à de países como Reino Unido, Alemanha, França e Nova Zelândia.

“Não posso estagnar. O objetivo é aumentar a produção de soja, sempre” Henrique Degrafda fazenda Santa Terezinha (Crédito:Eduardo Monteiro)

A busca por eficiência na lavoura e na criacão tem um motivo: não há mais grandes extensões de terras a serem exploradas no Paraná. Daí a necessidade de continuar firme na corrida pela produtividade em todos os setores. No ano passado, o valor médio de um hectare de terras planas era de R$ 62 mil, com algumas regiões chegando a R$ 76 mil. “Não há para onde crescer”, diz Meneghin. “A não ser para cima e com tecnologia.”

Foi esse o caminho escolhido pela Frísia Cooperativa Agroindustrial, de Carambeí. Em busca do conhecimento inovador para os seus 836 cooperados, no ano passado, a cooperativa promoveu a primeira Digital Agro, uma feira que discutiu automação, robótica e gestão de produção leiteira. E está indo para a segunda edição em junho. Por causa da aposta em tecnologias, a Frísia se tornou uma das líderes no beneficiamento de leite, com 212,1 milhões de litros no ano passado. A Frísia faturou em 2017 um montante de R$ 2,4 bilhões, incluindo na conta grãos, rações, fertilizantes, sementes e a industrialização de aves e suínos. Para Renato Greidanus, presidente da Frísia, os cooperados não têm medo de investir. “Na safra atual, investimos mais em sementes”, diz ele. “Investir sempre é o que faz a nossa média de produtividade ser mais alta que a do Estado.” No caso da soja, a meta dos cooperados é colher uma média de 4,3 mil quilos por hectare, 26,4% acima da média estadual. São 109,4 mil hectares cultivados e uma produção de 466 mil toneladas na safra passada.

Renato Greidanus: o produtor comanda a cooperativa Frísia, uma das maiores processadoras de leite do Estado, mas os cooperados também investem em lavouras (Crédito:Eduardo Monteiro)

O produtor e agrônomo Henrique Degraf, 32 anos, é um dos cooperados da Frísia. Em sua fazenda, a Santa Terezinha, em Ponta Grossa, ele cultiva 500 hectares. Na safra passada, a média foi de 4,2 mil quilos de soja por hectare. Nesta, a previsão é de 4,5 mil quilos e a meta para a safra 2018/2019 é de 4,8 mil. O faturamento com o grão foi de R$ 2,8 milhões em 2017, sem contar as outras receitas com o cultivo de feijão, aveia, trigo, triticale, cevada e canola. O produtor também confina 1,2 mil bovinos por ano e só pensa em investir. “Não posso estagnar”, diz Degraf. “O objetivo é aumentar a produção de soja, sempre.” Agora, ele quer iniciar uma criação de suínos. Degraf já usa o esterco do confinamento na lavoura, mas a ideia é aumentar a participação desse subproduto animal na adubação da fazenda e baratear o seu custo. “É trabalhoso gerenciar isso tudo, mas é o que também tem ajudado no aumento da produtividade”, afirma Degraf. “Quero produzir o máximo nas minhas lavouras.”