Laticínios

A inovação é o que move o setor de laticínios em toda a sua história, que não é recente. Não fosse a gradual melhora da alimentação e da genética do rebanho bovino, o Brasil jamais registraria o aumento da produtividade de leite. Em 2017, foram 33,5 bilhões de litros, com um rebanho de 17 milhões de vacas ordenhadas, segundo o IBGE. Há 10 anos, com um rebanho de 21 milhões de animais (25% maior do que em 2017), a produção era de apenas 25,4 bilhões de litros (cerca de 32% inferior a 2017).

Não por acaso, o setor de laticínios triplicou o seu faturamento na última década, chegando a R$ 70,2 bilhões em 2017, de acordo com a Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia). “É inegável que no País há vários polos de excelência na produção leiteira”, afirma Marcelo Martins, diretor executivo da Associação Brasileira de Laticínios (Viva Lácteos), entidade que reúne as principais empresas do setor. “Além disso, por estar mais estruturada e inovadora, a indústria está moldando o consumo e até exportando mais produtos de valor agregado”, destaca Martins.

A manteiga Aviação, fabricada pela mineira Gonçalves Salles, com sede em São Sebastião do Paraíso (MG), por exemplo, já chegou aos Estados Unidos, à França e ao Japão, segundo o médico Geraldo Alvarenga Resende Filho, 71 anos, atual presidente da companhia. “Somos uma marca que também chama a atenção dos brasileiros que estão fora do País”, diz Resende Filho. “Porque ela é um produto de valor que faz parte da nossa cultura”, declara.

Produzida há 96 anos, a manteiga Aviação se tornou um ícone entre os produtos lácteos processados, reconhecida pela qualidade que foi estendida a outros produtos da companhia. Em 2017, a companhia faturou R$ 248,4 milhões, 30,8% a mais do que no ano anterior. Por esse feito, a Gonçalves Salles é a campeã no setor Laticínios do prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL 2018. “É uma empresa que está conectada com o que acontece no mundo”, afirma Resende Filho. “Esse trabalho se consolidou com a marca da modernidade, a partir do tema aviação”, declara.

Na década de 1920, quando a marca nasceu, o avião era o que havia de mais inovador na indústria. O voo do 14-Bis, realizado na década anterior pelo mineiro Alberto Santos Dumont, foi um feito histórico e um símbolo da superação humana. Nascia ali a aviação, nome que os também mineiros Antonio Gonçalves (avô de Resende Filho) e Augusto e Oscar Salles (pai e filho) fizeram ao setor. Eles chamara de Aviação o mais importante produto da empresa que tinham acabado de fundar: um pequeno empório atacadista de secos e molhados na capital paulista. “Daí, meu avô comprou um laticínio desativado em Passos, Minas Gerais”, conta Resende Filho. “Assim começou a história da manteiga Aviação.”

Vários modelos de aeronaves foram estampados nos rótulos do laticínio. O primeiro avião foi um biplano monomotor. Depois, foi a vez de um Junker JU 52, em 1937, em homenagem à inauguração da ponte aérea comercial entre São Paulo e Rio de Janeiro. Já em 1975, o avião mudava para uma ilustração que fundia os modelos supersônicos Mirage e Concord. “A ideia era usar o que de mais novo aparecia na aviação para ilustrar os nossos produtos”.

Mas não era só isso. Segundo ele, nos produtos processados, a tarefa era jamais perder o foco em uma produção de qualidade.
A estratégia de marketing na criação da marca deu certo. Além de associar a imagem de modernidade à sua manteiga, a companhia foi conquistando cada vez mais consumidores satisfeitos com a qualidade do produto. E veio a decisão de se fixar definitivamente em Minas Gerais. “Em 1975, o negócio atacadista foi deixado de lado para dar mais atenção à indústria de lácteos”, afirma Resende Filho. Primeiro, se estabeleceu em Passos, até se mudar para o atual endereço, onde emprega 280 pessoas.

Além da manteiga e de derivados lácteos, como queijos, requeijões, doce e creme de leite, a Gonçalves Salles também começou a processar cafés especiais. Mas o carro-chefe ainda é a manteiga Aviação. Hoje, a empresa processa cerca de 36,5 milhões de litros de creme de leite por ano, que é a base da manteiga. Em 2017, foram 9 mil toneladas do produto. Para 2018, a meta é produzir, pela primeira vez na história da companhia, 10 mil toneladas. E a expectativa para 2019 é de fechar o ano com exatas 11 mil toneladas de manteiga. E assim, a Aviação vai conquistando voos cada vez mais altos e ousados. O céu é o limite.